terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pesadelo

E da noite surgiu aquela figura enorme, disforme.
E eu escondi-me, como podia, debaixo do lençol.
De nada valeu. Olhava-me com os seus grandes olhos e parecia murmurar algo. Palavras que não ouvia, dominado pelo medo.
Acordei. Estava só.

domingo, 29 de agosto de 2010

A vida é boa

A vida é boa, foi a mensagem que li no livro de Regina Brett, «50 lições que a vida me ensinou».
E, efectivamente, se olharmos para trás, mesmo nos momentos mais injustos, descobrimos a beleza da vida.
Mesmo que as escolas de tantas aldeias e vilas sejam fechadas, que as fotos do seu ensino sejam apenas memórias passadas, que as casas fiquem abandonadas quando os seus velhos habitantes partirem.
Mesmo assim, a vida será algo de belo.
Porque, nessa altura, já germinarão as sementes de uma nova sociedade, tal como germinaram nas diversas etapas da história da humanidade.
Tudo tem um princípio e um fim.
Mas a vida continua a ser bela.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Casal das Eirinhas

Ai que me dera a mim, como diz o Rui Veloso, voltar ali.
À Escola que alimentou o meu ego, que me fez encher de esperança, onde conheci um mundo diferente.
Era então uma escola num ermo. Por detrás, a eira onde tantas vezes apanhei pardais com trigo roxo. Mais ao lado, as figueiras do Ti António. Quantos figos não comíamos por ali, enquanto o Ti António nos chamava de malandros. E, nós descansadinhos, porque o coitado não tinha uma perna.
E, em frente, o campo do Telhadas, onde tantos jogos de futebol se realizaram.
Do lado esquerdo, primeiro a velha barraquita da minha avó e o Casal das Eirinhas dos meus amigos Luís e António; depois a São, minha companheira de almoço e de escola, amiga do coração; por fim, sucedendo ao Casal das Eirinhas, a Margarida. O sítio era já povoado de prédios.

A minha Escola Ginestal Machado, em Santarém, instituição a quem devo parte substancial do que sou.

Memória fotográfica

Memórias sem palavras, de tempos muito idos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Princesa de olhos azuis

A minha bela princesa espreitou-me do lago. Como que a perguntar-me: já viste os meus meninos?
E eu fui-lhe dizendo que tinha uns príncipes lindos. Ainda bébés, no formato de peixes cabeçudos, mas brevemente bonitas rãs.
E os girinos rodeavam-na, admirando os seus lindos olhos azuis e o seu vestido verde.
A nossa conversa terminou, quando a princesa deu um salto sobre a água, apanhando um insecto que por ali se aventurou.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Marilyn Monroe

Dançando ao ritmo de Elvis estava Marilyn Monroe, a rainha das estrelas de cinema.

Elvis Presley

«Peace in The Valley». Só podia ser ele. Voltámo-nos e ficámos surpreendidos. O Rei mesmo ali ao pé de nós.
Continuou com «Like a Baby», depois «My Way».
Elvis Presley estava bem vivo, naquele belo espaço, na expo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sonhos de verão

A vida foi extremamente dura para o velho guerreiro.
Mas grande foi a consolação na chegada aos céus.
Lavado, perfumado, rejuvenescido.
E sentiu-se um herói perante as donzelas.
Nisto acordou. A seu lado ressonava um labrador, já velhote.
Não dormiu mais. Se tivesse a certeza de que o sonho era realidade, quem lhe dera partir já.

domingo, 22 de agosto de 2010

Diante do espelho

Coloquei-me diante do espelho, mas não abri os olhos.
Não me quero ver.
Há dias em que não me suporto!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vamos a ver

A vida é mesmo isso. Um vamos a ver. Que os destinos estão traçados, não são é conhecidos de nós, simples humanos.
Quantas das vezes os pobres barquitos saíram para o mar, cheios de esperança. E quantas das vezes, não ficaram, chorando na praia, as mulheres viúvas e os filhos órfãos?
«Vamos a ver» é o nome do barco mas, também, o dos dias que se seguem, nestes tempos difíceis.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Por baixo moram os animais

Hoje, no noticiário, ouvimos um habitante do Soajo, no Gerês, referir que, em cima moravam as pessoas e por baixo «moravam» os animais, revelando um extremo amor àqueles que foram os companheiros de vida, de trabalho e de sustento.
Lemos, também, que o governo vai encerrar mais de 1000 escolas no interior.
E vimos as imagens dos incêndios que fustigam a paisagem rural de Portugal.
O homem deslocaliza-se para o litoral e para a emigração. Quem fica em terras sem escolas, sem postos de saúde, sem emprego?
Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Emigrante

Olhámo-nos no elevador do Bom Jesus, em Braga.
E, nos seus olhos, vi uma vida dura na aldeia. Depois o "salto" com o marido já falecido.
Foram anos duros.
Hoje sente-se feliz, falando com os netos uma mistura de português com francês, não sabendo a quem prender-se.
Se a Portugal, que não obstante ser a terra dos seus pais, a abandonou, se a França, terra adoptiva, que lhe deu um pouco de esperança e algum conforto material.
Olhámo-nos e sorrimos, cúmplices.
Atrás, os filhos olhavam eternecidos.
E os netos brincavam, falando em francês.

domingo, 15 de agosto de 2010

Soldado desconhecido

Quantas mães ficaram sem filhos, mulheres viúvas, filhos órfãos.
Normalmente, por guerras que as classes dominantes travam na ânsia de maior poder económico.
E, desde sempre, são os filhos do povo pobre quem mais sofre com as guerras. Perdem sempre. A vida, a saúde.
O ganho é para outros.
A tantas soldados que perderam a vida, por guerras travadas injustamente, a minha homenagem.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Buraco das Salinas

Quantas das vezes, chegado o fim-de-semana, pegávamos no nosso material de pesca, metíamos um lanchito numa sacola e faziamo-nos ao caminho.
Rumávamos direito às Portas de Sol e cruzávamos a porta de Santiago, na altura para nós, o Buraco das Salinas. Descíamos pelo íngreme caminho e, em breve, estávamos na Ribeira de Santarém.
Depois, junto aos pilares da ponte, pescávamos bogas, bordalos, barbos, e até uma ou outra carpa, ou híbrido, como então chamávamos aos pimpões e outros peixes parecidos. Ou, então, não apanhávamos nada.
Eramos, então, homens com corpo e mente de adolescentes. Homens, porque desde cedo trabalhavámos; adolescentes, porque essa era a nossa idade.
A subida era bem pior. Não só por ser subida, mas pelo cansaço do dia.
Mais tarde soube que a vida não é mais que o caminho do Buraco das Salinas, nas Portas de Sol. Tudo nos parece sorrir, quando descemos a montanha, nascidos para a vida. Porém, mais difícil se torna o caminho que nos leva de regresso.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Noite de estrelas

A ponte ao fundo, que liga o Vale de Santarém ao campo, provavelmente de origem árabe, terá mais de 800 anos.
A imagem dos toiros terá perto de 100.
Hoje, quando atravessei a ponte, senti que, por ali, pairam no ar momentos de muito amor.
Tentei ver as estrelas, porque diziam que iria ser uma noite de estrelas cadentes. As estrelas que invadiram tantas noites por ali percorridas.
Em vão!
Provavelmente, tudo isto não passou de uma ilusão ao ver os azulejos no mercado de Santarém.

Tocador de concertina

«Tocador da concertina,
Tuas vozes soam longe,
Meu coração de menina, ficou preso a partir de hoje.
Passaste no meu jardim, logo as flores se inquietaram.»


Vitorino e o Tocador de concertina

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Um rancho em Ponte de Lima

Junto ao Rio Lima senti o povo fervilhar de alegria, nas suas musicas minhotas.
E, fosse eu que mandasse, ainda por ali estaria.
A ouvir e sentir a musica popular, tocada e cantada pelo povo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Homenagem a um bombeiro desaparecido

Ouvi a notícia da morte de um bombeiro de Alcobaça, em S. Pedro do Sul.
E relembrei o fogo que fotografei, consumindo o Gerês, património de todos nós.
Relembrei também uma família, a família do bombeiro falecido, cuja vida ficará para sempre mudada.
Quantos de nós agradeceremos o seu esforço heróico? No próximo fim-de-semana as águas frescas das praias do litoral, limparão as breves imagens que nos ficaram.
Mas aquela família ficará com elas gravadas para toda a sua vida.

domingo, 8 de agosto de 2010

Dois vadios

Olhámo-nos, com pena um do outro.
Eu, preocupado, porque pensava que se tratava de um pobre bicho perdido.
Ele com a certeza de eu estar abandonado.
Na mente do cão passaram estórias semelhantes, conhecidas ali da sua rua. Pessoas, como eu, que apesar de não aparentarem, transportavam consigo uma pata cheia de problemas.
Olhou-me, apenas por um olho, que o sol encandeava-o. Teve dó de mim.
Saí dali com pena do bicho. Não parecia regular muito bem da cabeça.

Incêndio

É um sentimento de revolta que nos assola.
Olhamos para o que foi uma montanha cheia de vida e vemos labaredas e fumo por extensas áreas.
Logo pela manhã, os bombeiros deitados na estrada, estão extenuados por mais uma noite de combate.
Um simples helicóptero acaba por desistir, que o fumo não deixa ver nada.
Provavelmente, ao longe, mentes criminosas e doentes, sorriem. Enquanto isso, os interpretes da nossa justiça, acusam-se mutuamente.
Depois ouvimos que, no Gerês, os vigilantes não saem de casa porque não há dinheiro para as deslocações.
A revolta começa a não ser apenas pelos fogos.

Maria da Fonte

A Maria da Fonte representa um povo incógnito que, de quando em quando, se levanta contra as injustiças.
Mas representa, também, muitos heróis deste país, vindos das camadas mais pobres, que abraçaram causas pelas quais deram a maior parte dos anos das suas vidas e, tantas vezes, a própria vida.
Um desses homens foi a enterrar hoje. Chamava-se Dias Lourenço.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O retrato

Eu bem o queria mas a minha mãe disse logo que não. Era muito dinheiro.
Então, amuei e sentei-me num muro, ali perto.
A ver os meninos sentarem-se no cavalinho de madeira. Depois o senhor dos retratos metia a cabeça dentro da máquina.
E, como que por magia, os retratos dos meninos saíam daquela panela.
E, as mães e os pais iam todos sorridentes, admirando a beleza dos meninos.
Eu devia ser muito feio.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Poema da menina do higroscópio

«Quando a menina do cesto assomar à portinha do higroscópio e os pássaros de gesso debicarem as pontas dos seus tamancos,
óh! como vai ser bom!
mesmo que tu não venhas nem existas,
hei-de ir contigo passear no campo.»
António Gedeão

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vidas simples

Num dia de primavera, em tempos já muito recuados, um campino encontrou uma bonita camponesa, que vinha vender os seus produtos à vila.
Ela admirou o seu porte e ele a sua formosura.
Um outro dia, não muito distante desse primeiro encontro, casaram.
E foi uma vida difícil, porque ambos eram pobres. Mas foi uma vida feliz, porque se amavam.
Tiveram filhos e, mais tarde, netos.
Um desses netos teria pintado este azulejo que se encontra na estação de Vila Franca de Xira.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Reflexões

Quando nos erguemos, depois de trabalhar uma vida inteira, descobrimos que estávamos sós.
Não reparámos que a vida fugiu por entre os dedos, que os sentimentos se esvaíram, que as amizades se foram, que o amor deixou de existir.
Não reparámos na solidão que entrava sorrateiramente e que acabou por inundar a vida.
E havia tantos sinais para ver.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O amor de Maria Madalena

Quando todos os discipulos fugiram, com medo, foi ela que ali ficou, aliviando a agonia do seu amado Jesus.
Foi Maria Madalena que seguiu Jesus até ao sepulcro. E foi ela que, logo pela manhã, acorreu para o embalsamar.
E foi Maria Madalena a primeira a quem Jesus apareceu.
Grande teria sido o amor que os uniu.

domingo, 1 de agosto de 2010

Libelinha

Pousada sobre o lago, a libelinha demonstrava todas as suas habilidades e a sua beleza.
Verdadeira pujança da natureza.
Depois do Miguel a fotografar, lembrei-me do Sermão da Montanha: olhai os lírios do campo como crescem. Não trabalham, nem fiam. Contudo, nem Salomão se vestiu como um deles.

O índio

É um companheiro de muitas noites de sonho.
Tem a tenda no quarto do meu filho e, foi fotografado por ele, quando ensaiava os trajes para a festa índia.
Pintou-se com amor, dedicação e carinho.
Coisas simples, mas que representam muito amor.