quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Cullis monumentalibus II

Tive de trazer novamente esta escultura fotografada em Oviedo.
Ela deveria estar aqui, em Portugal.
Representaria um povo.
Esperando, todos os dias, que o próximo cullis monumentalibus a ser violentado, fosse o do vizinho.
Isso ele apoiaria. Porque o vizinho é um ser sortudo. É funcionário público, portanto, cheio de mordomias.
Um dia, não percebeu. Porque também a ele lhe reduziram o ordenado, se nem era funcionário. Obrigaram-no a pagar a escola dos filhos, a consulta no hospital, o processo na justiça.
E, curioso, no dia do voto, lá ia ele votar, de calças rotas no cu, para que o ânus ficasse bem à mostra.
Não reparou que os seus filhos nem emprego tinham, enquanto os filhos dos mártires eleitos se empregaram todos nas grandes empresas do país. Aquelas empresas, cujos resultados aumentam, na exacta medida em que o rendimento disponível dos trabalhadores fica reduzido a zero.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Meninos

Em Candas, nas Astúrias, num mural de parede, podem ver-se os meninos a brincarem, enquanto passava uma procissão.
Lembrei os tempos em que jogava ao pião, ao berlinde, com as tampas das caixas de fósforos, com as caricas, à bola.
Lembrei o Luís, o António, o Aurélio, o José Alberto, o José Joaquim.
Por momentos esqueci o Júlio, o Asdrubal, o nem sei o nome.

domingo, 26 de setembro de 2010

Tanta água

Foi há cerca de 50 anos canídeos.
Lembras-te dono? Meti as patas em cima do muro da marginal de Armação de Pera e fiquei estupefacto.
Tanta água! E tu sabes como eu adoro a água! Já tinha visto o Tejo, em Valada e em Porto de Muge. Mas assim...
Tu sorriste, contente de me teres levado à praia. Eu sorri, tão satisfeito por ter um dono amigo.

sábado, 25 de setembro de 2010

Mulher de coragem

Foi num dia cinzento, triste, que partiu.
Cortou as grilhetas que a prendiam, ignorou apelos, pegou na mão da filha, deixou tudo e partiu.
Chegou num dia de sol, alegre.
E, pouco a pouco, com a paciência e carinho de mulher, começou a bordar uma nova vida, porque nunca é tarde para se ser feliz.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Flor dos campos

Por ali fiquei, longos momentos,
admirando a capacidade criativa da natureza.
Pequena flor silvestre, nascida nos campos, vestida de um azul celeste, resplandecente de alegria.
Se me fosse permitido, ali repousaria, eternamente, o meu olhar.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vendedora do mercado do Mindelo

Mindelo, Setembro de 2002, manhã cedo, no mercado.
Quantos dos mercados da Europa não gostariam de ter o asseio e higiene que ali encontrei.
E que oferta tão variada. Muitos dos produtos vindos da montanhosa ilha de S. Antão, a pouca distância de S. Vicente..
As cores das frutas e dos legumes encantavam os olhos.
A vendedora encantava o coração!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Calor humano

E pronto!
O dia chegou ao fim.
O amanhã será diferente, sem o calor humano de hoje.
É nestas alturas que repenso a minha ideia de acabar num mosteiro, de volta do jardim.
Provavelmente ainda não estou preparado para a solidão.
E quem estará?
Todos nós necessitamos de uma voz amiga a sussurrar-nos ao ouvido, «gosto de ti!»
E, como sabe bem dizer ao nosso próximo que, também, gostamos muito dele.

Aniversário

Todos nós nascemos um dia e fomos crianças.
Eu também!
Para quem, então, lhe chegaram a estimar poucos meses de vida, até que nem foi mau.
Ainda por cá ando, e já lá vai mais de meio século.
Obrigado querida mãe por me teres dado esta grande oportunidade de viver!

domingo, 19 de setembro de 2010

Luís Teodoro

Hoje, quando vagueava sem destino, encontrei um grande amigo de infância. O Luís Teodoro. E senti-me como que uma tela de cinema. As imagens passavam em catadupa.
Ficou aqui memória da escola primária dos Combatentes, em Santarém, onde ingressei depois de regressar de Lisboa e onde brincava com o Luís.
E porque não lembrar um grande professor, Eduardo Pires Valente, para quem os alunos das classes mais abastadas não eram tratados de maneira diferente dos alunos das classes pobres, como era o meu caso. Seria um homem de excepção naqueles tempos, por isso ainda recordo o seu nome.

sábado, 18 de setembro de 2010

Lulas de Tomatada

E foi assim:
O colega Tomate, saído da aridez dos campos, depois de muito tempo, mesmo muito tempo, na sombra do tomateiro, onde ia dizendo mal dos outros tomates, que eram isto, que eram aquilo, porque só ele era bom, o exemplo. Dizia eu, que o Colega Tomate viu-se como um senhor entre os senhores. Chegara a vez dele. E ali estava no topo da caçarola, todo inchado, perante os seus pares.
Do seu lado direito, a colega Lula acenava com a cabeça. Na verdade, sendo o prato vermelho do tomate, quem na realidade ali dava um pouco de substancia era a colega Lula.
Ao lado, a colega Cebola, chorona, passiva. Que poderia ela fazer? Praticamente desapareceria de seguida. Portanto, apenas chorava.
Depois, dois produtos novos nesta tomatada: Um, o colega Pimento, ficou vermelho com o seu próprio historial. Nem ele sabia que era assim tão bom. Mas também não sabia que o colega Tomate o considerava como um bom ingrediente, porque não lhe apagaria a imagem.
Já o mesmo não se poderia dizer do outro novo colega. O Piripiri. Esse sim, poderia tornar-se perigoso, dada a sua apetência para a caçarola. O colega Tomate bem lhe perguntou: mas você quer mesmo dedicar-se a isto? E o Piripiri, apimentado, dizia-lhe: bem... O que deixou o colega Tomate ainda mais desconfiado.
Não falei do azeite, que o colega Tomate gostaria de eliminar da caçarola, para que o manjar soubesse apenas a tomate. Nem do colega Sal, que o colega Tomate ainda tolera, até que o colega Azeite saia da caçarola.
Por lapso, o colega Caldo knorr, com sabor a alho, não compareceu.
E pronto! Era uma vez um senhor Tomate e os seus colegas de caçarola. Deles, apesar de terem passados poucos anos, já ninguém se lembra.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A beleza da vida

«Como são belos e perfeitos os animais!
Como a terra é perfeita e a mais pequena coisa sobre ela!
Aquilo a que se chama bom é perfeito e aquilo a que se chama mau é igualmente perfeito.»
Walt Whitman, Folhas de Erva

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ascensão

Viu-O na Cripta da igreja de N. Senhora do Sameiro.
Separou-se do painel de azulejos e subiu aos céus.
Se não viu, imaginou.

domingo, 12 de setembro de 2010

Conversa entre esculturas de areia

Estás cada vez mais bonita, cachopa!
Ganhe juízo ti Fernando, que já tem idade para isso!

O grito

Não me obriguem a vir para a rua gritar!
Zeca Afonso - Venham mais cinco

sábado, 11 de setembro de 2010

Cão de prancha


Espero bem que a minha dona não caia da prancha.
Que as mulheres, por vezes, são um pouco desajeitadas.
Preferia andar só!

Felicia

Descobri-te em casa da Lurdes, já há uns anos. Estavas com o Saturnino numa grande foto, toda estragada.
Provavelmente a foto que representou o vosso enlace, lá para os princípios do século passado.
Eu sei que a fotografia ainda não está recuperada, mas não resisti a colocá-la na net, por, concerteza, ser a tua primeira foto.
De certeza que ficarás contente Felicia.
E eu, também, por te poder prestar esta homenagem.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O cauteleiro


Muitos foram os anos como cauteleiro. Assim formou família e criou os filhos.
Em cada cautela, mil sonhos.
E, uma ou outra vez, sonhos realizados.
O cauteleiro, vendendo a riqueza, continuou sempre pobre.
Mas feliz, porque as cautelas que vendeu deram de comer a muitos idosos, ajudaram muitas crianças a tornarem-se homens.
O cauteleiro está orgulhoso do seu trabalho.

Portas do Sol

Portas do Sol, em Santarém, há muitos, muitos anos. Talvez em meados do século passado.
Um jardim que era o ex libris da cidade.
Por ali passearam, na sua juventude, as mulheres da minha família.
Por ali passeei eu, anos mais tarde.
Não havia volta, aos domingos, que não metesse as Portas do Sol.
E, ali, num banco de jardim, descobri o carinho dos primeiros beijos de amor.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

o meu monstro

Bem, tenho de ir.
Algures por aí, numa esquina, numa rua sombria, num qualquer quarto escuro, está o meu monstro.
Quando a noite estiver próxima da madrugada, ele regressa.
E, então, não saberei se os sonhos são reais ou fantasia.

Montinho

No final do dia, que os dias eram difíceis, juntavam-se na taverna, no Montinho, em Castro Marim.
E a seguir a um copo, vinha outro. Quando saíam, os caminhos já pareciam turvos e confusos.
E chegado a casa, o Nicolau chama da Mariete.
E ela, ralhando, mas sorrindo às escondidas, traz uma pequena bacia com água e lava-lhe os pés.
Como era bonito o amor entre os dois.
Um dia, tudo acabou.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Amigos de S. Tomé

Grandes amigos deixei em S. Tomé.
Apesar de estarmos muito longe, estão presentes no meu coração.
Da esquerda para a direita, o Julio, o Alvaro, pai da grande atleta Naide Gomes, e o Antero, meu companheiro no último trabalho que por ali fizemos.
Um ano destes voltarei para cumprir o prometido. Ir com o Antero à pesca.
Que saudades.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Nirvana

«Nirvana é a meta do budismo, o apagar das paixões e a extinção do ego. É não necessitar mais de reencarnar. É o que todo o budista procura para toda a vida, a paz absoluta. É o que faz do homem comum um Buda. É a iluminação.»
Wikipédia

Apenas a barriga me aproxima dos grandes mestres que atingiram o nirvana. Dos homens que se fizeram Budas.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Amor

Ele, um homem da lezíria. Ela, uma mulher do bairro.
Ele, perdido nos encantos do campo. Ela, sobranceira sobre o Tejo, sem o qual não podia viver.
Ele, cheio de desejos daquela mulher.
Ela, desejosa de lhe mostrar as vistas da sua casa.
E passaram os anos. Ele vive ainda, como nesse primeiro dia, perdido por essa mulher.
Ela, todos os dias, lhe mostra as vistas da casa.
Como nesse primeiro dia.