quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Blimunda

«Nove anos procurou Blimunda. Começou por contar as estações, depois perdeu-lhes o sentido. Nos primeiros tempos calculava as léguas que andava por dia, quatro, cinco, às vezes seis, mas depois confundiram-se-lhe os números, não tardou que o espaço e o tempo deixassem de ter significado, tudo se media em manhã, tarde, noite, chuva, soalheira, granizo, névoa e nevoeiro, caminho bom, caminho mau, encosta de subir, encosta de descer, planície, montanha, praia do mar, ribeira de rios, e rostos, milhares e milhares de rostos, rostos sem número que os dissesse, quantas
vezes mais os que em Mafra se tinham juntado, e de entre os rostos, os das mulheres para as perguntas, os dos homens para ver se neles estava a resposta...»

Ficava ali na Azinhaga, mais um pouco, a ouvir Saramago contar as histórias do povo. A odisseia de Blimunda, em busca do amor que perdera há nove anos e que veio a encontrar, demasiado tarde, nas fogueiras da inquisição, deixou-me triste. Quem faria tamanho sacrifício por mim? Deixei Saramago e parti.

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