segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A terra abençoada

Era ainda uma criança e já pastoreava o seu pequeno rebanho ali perto do que fora uma terra abençoada, segundo lhe dizia o seu avô (ao qual, também, lhe teriam contado os seus antepassados).
O que ele vira, desde criança, foi uma terra que decaía na exacta medida em que ele avançava na idade e em que os seus dirigentes eram sempre piores do que os anteriores.
Hoje, o que outrora teria sido uma terra abençoada, é agora um conjunto de ruínas materiais e humanas.

domingo, 27 de novembro de 2011

A fé do pescador

Muita aflição sentiu Ti António naquele dia.
Pensou na vida difícil que companheira e os filhos iriam ter.
Foi então que sentiu o seu espírito elevar-se clamando por ajuda.
E o mar revolto transformou-se num mar chão.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Uma flor para ti

É para ti esta linda flor.

domingo, 20 de novembro de 2011

O telhado de ardósia

Manuel olhou para o telhado de ardósia. Viu apenas um telhado.
Manuel não reparou que todas as placas, apesar de diferentes entre si, se uniam para proteger a casa, sem que nenhuma invejasse o papel da outra, porque todas são indispensáveis.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Novembro de 1982

Quando o nosso querido amigo te pegou ao colo, num dia frio do mês de Novembro de 1982, terias apenas alguns dias.
Mais tarde serias tu a anichar no teu colo a primeira filha do nosso amigo já feito homem. Tu eras a Madinha querida dessa Princesa linda.
Um dia destes, que os dias correm sem parar, será a menina mais nova do nosso amigo a embalar no colo os teus meninos.
Que a amizade, quando é pura e sai do coração, transmite-se de geração em geração.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O macaco Artur

A obrigação do homem é voar alto, disse o professor Agostinho da Silva.
O Macaco Artur, na ansia de voar alto como um homem, subiu, subiu, até ficar bem no cimo.
E dali olhou em seu redor e inchou. Sou o maior, pensou.
E desprezou os seus semelhantes, seres inferiores, sem vida, sem sentimentos.
O macaco Artur, na ânsia de brilhar ou de esconder, de si mesmo, um passado pobre, esqueceu-se que a vida são uns anitos mal contados.
Dizem algumas pessoas que o espírito do Macaco Artur vagueia, sem sossego, nas noites mais escuras.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A sidra

E foram várias as vezes em que Manuel encheu os copos com a sidra fresca.
Tantas que esquecemos aqueles espíritos antigos, malignos e empedernidos, a habitar em corpos de hoje.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O dragão de komodo


Dragão de Komodo - Jardim Zoológico de Lisboa - 2011
Muito antes de o homem ter aparecido, já por aqui vivia o dragão de komodo.
Foi contemporâneo dos primeiros homens, das suas carências e do seu espírito de sobrevivência. Do nascimento da ideia de propriedade, de força, de domínio, de poder.
Assistiu ao apogeu e declínio de muitas civilizações e impérios. Sobreviveu a religiões, ideologias e sistemas políticos.
Mas, na realidade, o dragão de komodo, continua igual ao seu antepassado do tempo dos dinossauros. E o homem? O que evoluiu nele?


terça-feira, 1 de novembro de 2011

A senhora do eléctrico

Há mesmo coincidências. No eléctrico 28 encontrei a senhora idosa que um dia destes me falava dos tempos do Salazar. Desta vez, sentei-me ao seu lado e fui-lhe dizendo que o Kim não gostara daquela conversa. Até parecia que estava a fazer a defesa dos tempos difíceis de então.
Ai menino - gostei que ela me tratasse assim - perceberam mal o que eu quis dizer.
O povo sofria muito, trabalhavam de sol a sol, pouco tinha para comer. As votações eram uma farsa.
Mas o que fizeram os políticos que nos têm governado nestes últimos tempos? Sob a capa da democracia conduzem-nos para uma situação tão boa ou pior que a desse tempo. E como se têm governado esses políticos? Algum está numa situação de precaridade?
Eu não tenho medo do Salazar, menino, porque o Salazar está morto. Tenho é medo destes políticos.