sexta-feira, 27 de julho de 2012

Mulheres

2012 - Pormenor de pintura mural - Setúbal
Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.

Elas brigam por aquilo em que acreditam.
Elas levantam-se para uma injustiça.
Elas não levam "não" como resposta
quando acreditam que existe melhor solução.

Elas andam sem novos sapatos
para suas crianças poderem tê-los.
Elas vão ao médico com uma amiga assustada.
Elas amam incondicionalmente.

Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham prémios.
Elas ficam contentes quando ouvem
sobre um aniversário ou um novo casamento.


Pablo Neruda

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Titã-Fragmento

2012 - «Titã-Fragmento» - Escultura de Beatriz Cunha - Sintra

Quando era pequeno e tinha avós que lhe contavam histórias, o titã tinha duas faces, como todos nós na idade em que absorvemos a ternura dos mais velhos.
Um dia os avós partiram e o titã ficou fragmentado. Um pedaço dele partiu também, talvez o da inocência desses tempos.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Saudade

2010 - Alcanhões

Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...    
Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida... 
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...  
Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás, é o gosto de morte na boca dos que continuam...  
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou.  
E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.  
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido

Pablo Neruda.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

De noite


2012 - «Erzhulie» pormenor de escultura de Haude Bernabé - Sintra
Não era manhã, nem tarde.
Pelo escuro que se via, com certeza, era já noite.
E é na noite, mesmo que seja dia, que os caciques, pequenos deuses caseiros, tecem as suas artimanhas.

domingo, 22 de julho de 2012

O Fauno

2012 - «Fauno» - Escultura de José Alves - Sintra
No seu pequeno bosque, o fauno procura enredar na sua música as jovens (e algumas pastoras já maduras) que por ali pastoreiam os seus rebanhos.

O que ontem era um ser humano, hoje é um fauno, um misto de animal e de homem, sendo que deste apenas lhe ficaram os testículos e o pénis.

domingo, 8 de julho de 2012

Uma mulher envelhecida de olhos tristes

2011 - Mouraria - Lisboa
Dizia o poeta, na voz do cantor, que a menina de olhos tristes, sem mãe e com o pai inválido veria um milagre, que seria o de casar com um rapazinho muito bonitinho, com um bom emprego.
Provavelmente o poeta não acreditava em tal milagre.
Mas a menina viria mesmo a casar com um rapazinho muito bonitinho e com um bom emprego.
E o menino viria a ser o filho desse casal.
O que o poeta não disse, porque aconteceu depois, foi que o rapazinho apenas era  bonitinho no corpo. Quando ficou sem o bom emprego revelou que era era muito feio de alma.
Agora, se o poeta passasse na praia, veria uma mulher madura, envelhecida, de olhos tristes.

sábado, 7 de julho de 2012

Mãe

1979 - Vila Real de Santo António
Foi há 21 anos que partiste.
Tenho saudades tuas minha mãe.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Vinhos do Porto

2011 - Montra de estabelecimento - Sintra
Beber para comemorar o acórdão do tribunal constitucional ou beber para esquecer esse acórdão?
Na dúvida, foi bebendo até despejar a garrafa. Depois deitou-se e, quando acordou no dia seguinte, teve uma certa sensação de vazio.

As portas que Abril abriu

2012 - Pintura mural do PCP - Setúbal

«E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.»

José Carlos Ary dos Santos (As portas que Abril abriu)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Foto do Manuel em dia de felicidade

Grafitti em Setúbal

Para grandes males, grandes remédios!
E Manuel sorriu ao lembrar-se deste velho provérbio popular, só ele sabia bem porquê.
Mas que estava feliz, lá isso estava.